O gestor de reputação, responsável pela imagem da empresa, influencia decisões estratégicas e ganha espaço no alto escalão
Quando a área de assuntos governamentais, a de responsabilidade social, a assessoria de imprensa, a comunicação interna ou o marketing disparam uma mensagem coerente, aposte que há alguém por trás desse feito. É o gestor de reputação, uma espécie de tradutor das várias línguas faladas dentro da empresa. Não que o título seja exatamente esse, mas é o que esse profissional faz: cuidar da imagem da companhia de maneira global. Hoje, as grandes empresas se preocupam cada vez mais em unificar a mensagem que enviam aos diferentes públicos com que lidam, com o objetivo de fortalecer a marca e se preparar para novos mercados ou para enfrentar crises futuras.
A novidade é que o papel desse executivo, que antes lidava principalmente com as relações com a imprensa, está mais abrangente. Além de cuidar da comunicação e da mídia, quem lida com reputação da empresa precisa estar familiarizado com a estratégia de negócios – que, em muitos casos, ajuda a definir. Uma pesquisa concluída em 2005 pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) mostra que 47% dos profissionais de comunicação corporativa, de um universo de 117 empresas ouvidas, ocupam cargos de diretoria, superintendência ou gerência. “Há dez anos essa área estava distante do negócio e do alto escalão, mas os escândalos corporativos que envolveram grandes empresas recentemente aceleraram essa aproximação”, diz Luiz Carlos Dutra, de 42 anos, vice-presidente de assuntos corporativos da Unilever, em São Paulo. “Agora está tudo inserido no negócio da empresa. Faz parte da estratégia da marca ter uma comunicação dirigida estudada”, diz.
Vide casos com o da Petrobrás e seus vazamentos de petróleo nos anos 90, hoje, suplantados, entre outras ações, por causa da forte atuação da companhia em projetos de cultura e responsabilidade social – iniciativas que refletem positivamente na imagem da companhia. A idéia é mesmo harmonizar as mensagens. Assim, quando uma crise chegar, o impacto é menor ou, no mínimo, o plano de ação já está ensaiado. “Há uma demanda considerável por profissionais dessa área”, diz a consultora Vicky Bloch, especialista em gestão de carreira, de São Paulo. “A maneira como se fala com os vários públicos com que a empresa lida, precisa ser unificada e sofisticada.”
No caso da Unilever, é parte da estratégia investir em imagem para fortalecer a marca global. Se o nome Unilever estiver na cabeça dos consumidores, seus 400 produtos, que vão de creme dental a sorvete, sairão ganhando. “Em grandes empresas que prezam pela reputação, o profissional de comunicação corporativa se envolve em várias esferas do negócio, desde o lançamento de um produto, até a definição de políticas públicas”, diz Vick. Entram aí as ações de responsabilidade social e ambiental. Além delas, a comunicação com o governo ou assuntos regulatórios, a relação com investidores em alguns casos, a comunicação interna e as relações com a imprensa. “Temos que cuidar da imagem corporativa, que está ligada à biotecnologia, fazendo a ponte com o departamento de marketing, que define como será divulgado, e com a comunicação interna”, diz o administrador Lucio Pedro Mocsany, diretor de comunicação da Monsanto e responsável por diversas esferas de comunicação, incluindo as ações desenvolvidas pela fundação da empresa.
Novo Perfil
Como o interesse em formar equipes responsáveis pela imagem corporativa cresceu impulsionado pela necessidade de enfrentar momentos de crise, geralmente divulgados com amplitude pela imprensa e que levam a danos nos cofres das companhias, jornalistas especializados em gestão de crise são um perfil comum nessa área. “Esse é um dos profissionais que o mercado procura, mas hoje o perfil tem que ser mais amplo e a formação também”, diz Rose Naves, coordenadora do novo curso de pós-graduação em comunicação corporativa da Faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo, criado no ano passado para suprir a demanda de agências de comunicação e assessorias de imprensa e de empresas em geral. A necessidade é por profissionais que entendam de comunicação, mas que consigam falar a linguagem dos negócios. “No passado, esse profissional era operacional. Hoje ele é mesmo parte da gestão da empresa”, diz Rose. Ela explica que quem atua na área – caso dos alunos do novo curso – tem formação tão diversa quanto jornalismo e psicologia, e está à procura justamente de tal ligação com administração. “Esse executivo tem que ter capacidade de tomar decisões estratégicas.”
Formação
A área de formação pode sofrer influência do meio. “Nas empresas em que a negociação com o sindicato é um assunto constante, por exemplo, ter estudado Direito pode ser desejável,”diz Vick Bloch. O mais importante, porém, é mesmo a capacidade de agregar, “redigir” a mensagem que precisa ser passada e gerir a marca. A paulista Cristiane Xavier Brito, de 40 anos, gerente de comunicação e responsabilidade social da Klabin, se formou em publicidade, mas aprendeu administração na prática, na confecção que teve com a mãe. Mais tarde, completou a experiência no tempo que passou no centro de marketing para a América Latina da subsidiária mexicana da HP. Na Klabin, Cristiane é uma das responsáveis por integrar a comunicação de unidades em 50 municípios, que têm 8.00 empregados diretos e 4.000 indiretos. Quando o trabalho de reestruturação da comunicação começou, há cerca de dois anos, havia dezenas de jornais internos e boletins, mas nenhuma identidade na comunicação com os funcionários e terceirizados. “A Klabin hoje produz embalagens de papel, mas já produziu fósforos e até cerâmica. A comunicação vai ajudá-la a definir como quer ser enxergada no mercado”, diz a executiva. Todo o trabalho, que está nas mãos de uma diretoria criada para isso, está influenciando positivamente até mesmo o preço das ações da empresa na bolsa. Luiz Carlos Dutra, da Unilever, dá uma idéia de como a comunicação bem-feita age sobre o sobe-e-desce nas bolsas. “Só para usar um exemplo da Bolsa de Nova York, o desgaste da imagem de uma empresa por causa de um escândalo pode baixar seu valor em 50 bilhões de dólares. Mas se essa mesma empresa sobe uma ou duas posições no ranking das melhores na revista Fortune, por exemplo, seu valor sofre um acréscimo de apenas 5 bilhões de dólares.” (Por Fabiana Corrêa – Revista Você S.A. – Novembro de 2006)